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A Magia do Silêncio: aprendendo a se calar + exercício mindfulness

Antigamente, aqui no blog, eu tinha o costume de ler um livro inteiro e fazer uma resenha dele num modelo padrão, falando sobre todas as minhas impressões sobre o conteúdo, sobre a edição, autor etc. Agora, com o retorno do blog, quero mudar um pouco o jeito de escrever meus pensamentos e sobre minhas leituras e a primeira mudança é não fazer um post padrão, mas escrever ao longo da minha leitura, as impressões que estou tendo, divagar sobre trechos que me chamaram a atenção.

Hoje vou falar sobre o livro A Magia do Silêncio, da monja budista francesa Kankyo Tannier, que na verdade já concluí a leitura, mas fiz tantas anotações e marcações, que estou relendo as passagens das quais mais gostei.

Não é muito raro encontrarmos livros que nos falam sobre a necessidade do silêncio. Em uma era conhecida também por era da ansiedade, podemos perceber claramente que temos um sério problema em permanecermos em quietude. Isso acontece por vivermos na pressão da produtividade: se não estou fazendo nada, não estou sendo útil para a sociedade, sou uma pessoa descansada, preguiçosa e, portanto, não tenho valor.

A verdade é que precisamos SIM de um momento de ócio, de silêncio, de simplesmente não fazer nada. Esvaziar-se não apenas de bens materiais é necessário para nossa saúde mental e emocional. No livro, logo nos primeiros capítulos, a monja nos fala sobre a importância de termos um minutinho de silêncio.

Nada melhor que uma pequena experiência para testar a magia do silêncio em tempo real. Não importa onde você esteja neste momento: no ônibus, na sua cama, debaixo de uma árvore (…). Observe a paisagem, retome a consciência do seu corpo, da sua respiração, e fique exatamente onde está, sem fazer nada, por alguns segundos. Um minutinho. Você percebeu os segundos se passando? Sentiu o tempo correndo mais devagar? Isso não é nada se comparado a todas as descobertas que você poderia fazer se parasse ao longo do dia e olhasse para o céu. Nosso minuto de silêncio parece parar o tempo. É mágico! – pág. 33

Um minuto. E então falamos: “não tenho tempo!” e corremos para o computador, abrimos o Facebook, olhamos para a tela do celular e rolamos eternamente o feed do Instagram vendo fotos de outras pessoas. O tempo passa, 10, 15, 30 minutos, e continuamos olhando as redes sociais sem uma finalidade específica. Quando nos damos conta, já se passou uma hora e gastamos nosso tempo com os olhos em frente a uma tela luminosa. Mas… e pra meditar? E pra fazermos silêncio? Ah… não temos tempo!

Na verdade, não damos a prioridade. Observamos as pessoas que têm o hábito da meditação diária e achamos que elas nasceram pra isso. Que foram as escolhidas por um ser divino para virem à Terra programados com o gene da meditação. Mas não. A realidade é bem diferente e a verdade é que não há diferença entre um monge que medita há 30 anos, um praticante que começou ano passado e hoje medita diariamente e você, que tentou por umas duas ou três vezes mas percebeu que a mente ficava muito agitada e ansiosa. Qual a diferença, afinal? O hábito!

Você pratica meditação?

Muitas vezes achamos linda a prática da meditação, a serenidade que proporciona, a tranquilidade após uma sessão, mas não nos permitimos praticar a ponto de tornar um hábito. E quando pensamos em hábito, já imaginamos sentar em quietude por 30 minutos sem pensar em nada, quando podemos, na verdade, colocar o timer do celular pra tocar daqui a 5 minutos e apenas fechar os olhos, ou observar a paisagem da janela.

Neste livro, a monja nos dá a opção de aproveitar o ócio, como uma forma de esvaziar a mente. Em uma parte do livro ela conta que precisou ficar alguns dias confinada em um quarto na Índia devido a um tratamento ayurvédico e tudo o que tinha pra fazer era olhar um pasto pela janela, durante horas, e torcer pra aparecer algum animal por ali pra observar. Ah, mas isso é muito tedioso, vocês pensarão (e eu também!), mas já pararam pra pensar que nós não nos permitimos viver o tédio? Em qualquer momento de possível ócio, já pegamos nossos celulares do bolso e vamos checar as redes sociais. Ou catamos algo pra ler. Em uma espera de um consultório, é muito comum observarmos cada um dos pacientes olhando para a tela, sem ao menos interagirem entre si ou olhando para o vazio.

Isso nos consome. Não estamos dando espaço suficiente para nossa mente relaxar. Estamos raciocinando o tempo todo, mesmo que checando as redes sociais de forma automática. Os estímulos chegam às nossas pupilas, nosso cérebro faz o esforço constantemente para decodificar as informações, e acabamos nem percebendo que, aquilo que fizemos apenas para não passar pela sensação do ócio, tornou-se um hábito muito difícil de tirar.

Vamos fazer um exercício?

Que tal na próxima vez que estiver esperando por algo, não pegar o celular da bolsa? Que tal agora mesmo, ao terminar a leitura deste texto, você levantar o olhar da sua tela e observar a parede, o ventilador, a janela de onde você se encontra por pelo menos 3 minutos? Preste atenção na sua respiração. Como seu corpo reage? Quer que esse tempo acabe logo? Sente algum tipo de ansiedade? Se sim, precisamos conversar um pouco mais sobre como esses hábitos de ocuparmos o tempo constantemente está nos fazendo mal.

Vá, faça essa experiência agora. Entre nesse site: Online Meditation Timer e ajuste para 5 minutos. Feche seus olhos e observe sua respiração ou mantenha o olhar fixo em algo (pode ser o ventilador ligado). Depois me conte como foi sua experiência! Estou super curiosa pra saber (e sim, também já fiz aqui em casa!)

Categorias: Meu Diário

O meu retorno ao minimalismo

O meu retorno ao minimalismo | Blog Camile Carvalho

 

Esta semana escrevi lá no Twitter que talvez, quem sabe, eu estivesse pensando em voltar a escrever no blog. Sei que os últimos posts por aqui foram animadores: continuarei produzindo conteúdo, vou me esforçar para compartilhar as ideias mais aqui do que nas redes sociais, mas vejam bem, acabei deixando o espaço novamente entregue às moscas.

Mas de uma coisa eu posso falar: reduzi consideravelmente meu tempo nas redes sociais. Sim, eu consegui!

Eu sei que tudo anda meio obscuro no Brasil por causa das eleições, mas este não é o propósito deste post (sobre isso podemos conversar em outro lugar), e pra falar a verdade, estou sentindo demais essa energia da dualidade, dos ódios, dos excessos. Parece que tudo está transbordando e muitos estão agindo pelo medo. Sim, isso também me afetou.

Passei alguns dias com muita tensão. A ansiedade – que por muito tempo não batia à minha porta – deu as caras e cheguei a um ponto de sentir tudo muito preso no meu peito e garganta. Olhava ao meu redor e tudo que eu sentia era sufoco. Saía pras aulas do mestrado e pra dar minhas aulas de yoga e tudo parecia aliviar. Mas, era só chegar novamente em casa, que um alerta ligava e minha mente não conseguia descansar.

Nos últimos meses perdi o rumo. Caí numa onda de tentar me entender, de buscar minha identidade, e tudo que eu sentia era como uma bola de pingue-pongue, sendo jogada de um canto pro outro. Comecei a estudar Jung e isso ao mesmo tempo que abriu uma porta para um mundo encantado que eu não conhecia, também fez uma bagunça enorme na minha identidade.

Olho ao meu redor e tudo que vejo são livros, budas, incensos, velas, cristais e mais livros. Material do mestrado sobre a mesa aguardando que eu os estude. Prazos chegando ao fim. Uma viagem para a apresentação em um congresso chegando… e eu ainda me pergunto: quem sou eu, afinal?

Nesses dias de ansiedade, olhava para minha almofada de meditação zazen, ela olhava para mim e eu pensava que não, não queria meditar. Sabia que era o melhor pra mim naquele momento, mas não tinha vontade nenhuma. Até o dia em que me obriguei a sentar em quietude e fechar os olhos por 20 minutos. Sim, 20 minutos é uma eternidade quando estamos em meio a uma crise de ansiedade, mas algo que aprendi na meditação é que os primeiros 10 minutos são apenas um aquecimento, uma preparação da mente pra entrar na meditação. Fiquei 10 minutos… fiquei 20. O sininho soou com delicadeza informando o fim da meditação e a vontade que eu tinha era de ficar mais. E fiquei. Aproveitei. Ali era um espaço bom, ali eu estava bem. E fiquei mais uns minutos que acabei não contando.

Olho ao meu redor e percebo o que, de fato, está me incomodando. É TUDO isso que me acompanha. É todo esse peso, os objetos, os livros não lidos clamando por atenção. O excesso na decoração, a mistura de muita coisa que torna o espaço com a minha identidade, mas que talvez muito dali já não diga mais nada sobre mim.

Vida Minimalista.

Respirei fundo e lembrei-me de quando tudo começou. A criação do blog, a descoberta de que eu poderia sim, ter uma vida mais simples, livre dos excessos que me sufocavam. Sorri e percebi que estou entrando neste novo ciclo novamente. Tudo na vida é cíclico. Nos perdemos e nos encontramos. Temos a chave, temos o caminho para encontrarmos nosso centro. Basta apenas silenciarmos nossas mentes para que possamos escutar aquela voz interior que, muitas vezes fala suavemente, mas em outras, grita por socorro.

Desculpe, eu apenas estava tão ocupada ouvindo tudo ao meu redor que não lhe dei atenção.

Estou de volta.

Categorias: Redes Sociais

Os likes nas redes sociais e o movimento slow internet

Sobre likes nas redes sociais - Blog Camile Carvalho

Dando continuidade à saga das reflexões sobre as redes sociais, hoje vim escrever sobre outra questão relacionada à interatividade com quem acompanhamos. Afinal, por qual motivo distribuímos tantos likes? O que, afinal, representa o ato de clicar numa mãozinha (ou coração) e seguir a vida?

Na minha opinião, as redes sociais que usam o sistema de feed (sistema de rolagem contínua da tela que constantemente atualiza) nos instigam a permanecer nelas a maior quantidade de tempo possível. Isso é uma vantagem, já que quanto mais tempo ficamos olhando a tela, mais eles conseguem compreender nossos hábitos de comportamento para filtrar que tipo de anúncio exibirão para nós. Sim, é tudo relacionado a dinheiro.

A ideia é que passemos o tempo rolando a tela, inertes, com o mínimo de esforço possível, e daí surgiram os likes.

É muito simples: no Facebook, basta clicar numa mãozinha. No Instagram, basta clicar num coração ou duas vezes sobre a foto, e o ato se torna mecânico. Rola a tela, clica, rola, clica, e assim passamos minutos observando, inertes, pedaços da vida alheia sem qualquer tipo de interação. Nos tornamos passivos, olhamos uma foto, sorrimos. Olhamos outra, não gostamos, passamos pra próxima. E o clique no gostei, no like, no coração é como se fosse uma validação simples de “passei por aqui, já cumpri minha missão como amigo/seguidor dessa pessoa”.

É estranho, pra não dizer desesperador, o quanto vamos nos acostumando a ter novos comportamentos e passamos a achar tudo normal. Aonde, de fato, está a interatividade real quando adotamos um ato mecânico de checar as redes sociais pra ver as novidades e sair clicando, fazendo um check-in automático em tudo que vemos? Eu já estive nesse lugar. Já acordei e a primeira coisa que fiz foi pegar o celular. Já fui dormir e a última coisa que olhei foi o feed do Instagram. E vou te falar, uma vez que nos acostumamos, é difícil mudar o hábito. Mas não impossível.

Sei que muitos leitores aqui sequer gostam de redes sociais. Mas sei também que muitos não largam o celular, o Facebook, o Instagram. E é com vocês que quero conversar.

Para quem é viciado em redes sociais…

Que tal, ao invés do ato mecânico de clicar em gostei, passássemos a deixar comentários construtivos? Um comentário real, elogiando aquela sua amiga que cortou o cabelo. Ou uma mensagem de incentivo a alguém que compartilhou que não passa por um momento bom na vida. Um comentário com alguma dúvida, alguma resposta a alguém que perguntou algo. Por que não usamos a rede social para, de fato, socializarmos? Na minha opinião, isso mudaria bastante a forma como nos relacionamos com quem decidimos acompanhar. Ali sim, estaria uma forma mais concreta (se é que isso é possível) de mostrar presença, de mostrar que se importa, de verdadeiramente acompanharmos uma pessoa.

Mas, se eu sigo muitas pessoas, perderei muito mais tempo fazendo isso, não?

Vamos à faxina digital…

Que tal fazermos uma faxina nas nossas redes sociais, então? Seguirmos pessoas que realmente nos fazem sentir bem. Que produzem conteúdo que se adequa ao que pensamos, ao que gostamos, que não nos deixe pra baixo. Sabe aquela blogueira que sempre que publica algo você se sente mal, feia, diminuída ou pra baixo por não ser rica, bonita nem com possibilidade de fazer todas as viagens como ela? Pra que você a segue? Ela é realmente inspiração? (acredite, na maioria das vezes é tudo produzido, viu?)

Selecionar melhor quem seguimos, quem decidimos colocar no nosso círculo de “amizade” online é uma forma de respeitarmos a nós mesmos através da valorização do nosso próprio tempo. E assim optando por qualidade e não quantidade, podemos utilizar as redes sociais como forma de interação, de conversa, de diálogo, não apenas um jeito de alimentar um vício de rolar a tela infinitamente clicando de forma mecânica nos likes e corações da vida. Vamos interagir mais? Vamos fazer uma faxina digital? O que você anda fazendo com seu tempo? Criando laços ou apenas rolando a tela?

Por uma internet sem pressa, com mais presença e interação de verdade.