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Quando a hiperracionalização não deu conta

Quando a hiperracionalização não deu conta | Camile Carvalho

Quando mergulhei de cabeça no autoconhecimento, comecei a perceber coisas em mim que jamais havia percebido antes: comportamentos, falas, pensamentos recorrentes que muito provavelmente não tinham iniciado recentemente, mas sim há muito tempo – talvez nem mesmo nesta vida.

Então tornei-me observadora de mim mesma, afinal, se estou pensando e agindo, quem é que pensa os meus pensamentos?

O caminho espiritual junto com a psicoterapia me ajudou nesse distanciamento, de me observar por fora e analisar meus próprios passos como alguém de fora. A racionalização de tudo que me cercava me colocou num lugar seguro, importante e muito benéfico para o momento em que estava passando. Um momento de rupturas, de dores, de não compreensão de tudo o que estava acontecendo não apenas comigo, mas com o mundo.

Então esfriei. Deixei de sentir. Eu passei a tentar compreender meus sentimentos por meio de explicações racionais. Palavras. Textos. Para um dia de felicidade, uma explicação. Para um momento de choro, outra. Tudo é causa e consequência, portanto, tudo deve haver uma explicação.

A magia da espiritualidade não fazia mais tanto sentido, já que tudo é explicável e é passível de ser racionalizado. Mas há uma coisa que não tem como colocar em palavras: as experiências mais sutis que a vida espiritual nos proporciona. Há um sentir para além do sentir explicável que linguagem alguma dá conta. E foi aí que me senti como se os trilhos do meu trem tivessem acabado do nada. Não há mais para onde ir seguindo um parâmetro. Um passo além disso e todo controle, todo script, todo o explicável se esvai.

E foi então que percebi que algo estava faltando: mais uma vez o equilíbrio. O me permitir sentir com algo que vai além do coração e além da razão. Porque a espiritualidade tem uma mágica que, mesmo lendo todos os textos sagrados, mesmo recitando os mais difíceis sutras e mantras, mesmo sabendo toda a história da religião, não chegamos.

Há algo além que só é acessível por meio da experiência pessoal. E essa experiência, esse sentir, não há como explicar pois está para além da linguagem humana.

E então, volto para mim mesma, me olho no espelho dentro dos meus olhos e vejo que toda racionalização, toda hiperpsicologização dá conta de uma parte de mim. Mas somente o fechar os olhos, o meditar, o sentir é que dá conta de todo o resto.

Categorias: Livros

Os prós da leitura no livro físico

Eu tenho uma mania: vejo meus livros como material de consulta e não como uma leitura que se encerra quando concluo o último parágrafo.

E esse é um dos motivos pelos quais prefiro o livro impresso, mas também por outros motivos que vou listar a seguir:

  • Posso folhear livremente pra achar alguma parte
  • É mais fácil de encontrar minhas anotações, desenhos, esquemas que escrevo à lápis
  • Posso usar flags coloridas e categorizar por tema
  • Posso usar meus marca-textos (embora no digital também tenha essa possibilidade)
  • Colo post-its nas páginas resumindo ou comentando algo importante
  • Uso os livros como meus próprios cadernos não precisando escrever sobre eles em nenhum outro sistema (faço apenas se quiser)

Claro que tem contras, mas hoje vim falar dos prós de continuar comprando livros físicos. Mas agora quero saber: pra vocês, quais os prós de continuar lendo em livros impressos em vez do digital?

Categorias: Foco, Redes Sociais

Uma semana sem perder tempo no Instagram

A ansiedade, a impulsividade e o feed que nunca acabava

Foi num final de semana que percebi que estava com ansiedade. Rolava o feed do instagram buscando algo que eu nunca encontrava. Por minutos. Horas. Quando percebi que estava com um comportamento em relação às redes sociais que não estava me fazendo bem mas eu nada conseguia fazer pra mudar.

Eu estava presa, amarrada naquilo, com a ligeira impressão de que a próxima foto do feed alheio me traria alegria, o que nunca acontecia.

A verdade é que EU não estava bem e qualquer coisa que aparecesse na minha frente jamais seria a causa de uma felicidade repentina.

Encontrei perdido no meu iPad o livro Minimalismo Digital, que havia abandonado há um ano. Recomecei a leitura e, à medida que eu lia e revisitava minhas anotações, eu percebia que aquilo tudo que o autor Cal Newport relatava, fazia muito sentido pra mim.

O medo de perder algo importante (FOMO), a sensação de que vou encontrar algo bom se continuar rolando o feed, o falso pertencimento… e então, enquanto lia o livro, mais uma notificação me tirava da leitura e me fazia mergulhar num labirinto sem fim nas redes sociais.

Mas, o que eu estava fazendo mesmo?

Ah, sim! Lendo aquele livro…

Quando me desobriguei a postar no Instagram por uma semana

Julho de 2021, após finalmente ter concluído o livro, eu já me sentia melhor em relação às redes sociais. A ansiedade já estava controlada e eu mal pegava o meu celular durante o dia pra checar o feed. Mas algo me instigava a pesquisar mais sobre Minimalismo Digital, Mindfulness, concentração, saúde mental na internet em tempos de pandemia… e então, conseguindo respirar bem e com um olhar sereno, decidi me desobrigar a postar qualquer coisa no meu instagram por uma semana.

Não era um super desafio, visto que eu já não estava com aquela ansiedade do início do ano, mas ainda assim iria me tirar do lugar de conforto. Não me proibi de nada, não deletei nenhum ícone ou conta em redes sociais, apenas avisei que ficaria 1 semana meio offline pra meditações, reflexões, paz mental. E que estava tudo bem. E sim, sinceramente, eu estava bem.

A ideia era ficar de segunda a sexta usando a rede social de forma mais controlada e atenta. Observar meus passos e o que me levava aos comportamentos compulsivos, como abrir a rede social ao menor sinal de pausa no que eu estava fazendo. Eu queria ser o objeto da minha própria experimentação, me conhecer, entender os principais gatilhos que me faziam rolar o feed infinitamente.

E então eu fui desapegando, quase sem perceber. De vez em quando eu abria o Instagram, via os stories de algumas pessoas. Às vezes um assunto interessante, às vezes nada novo, apenas fotos aleatórias.

Pessoas trabalhando. Pessoas viajando. Pessoas respondendo perguntas. E então eu deixava o celular de lado. Está bom por hoje, nada novo.

Quando me comprometi a ficar de segunda a sexta sem o compromisso de produzir conteúdo, me conhecendo bem eu sabia que falharia no meio do caminho, talvez até mesmo antes de quarta. Mas, quando sexta feira chegou, eu quis prorrogar pra 7 dias, então voltaria na segunda. Mas, quando segunda chegou, eu não tinha assunto. Não havia elaborado ainda um post de “olha só, eu voltei” e nem sequer havia escrito sobre minha experiência. Eu simplesmente me desliguei de tudo isso.

Acabou o desafio? Acabou e eu nem vi…

E aqui estou, na terça-feira próximo à meia noite, escrevendo esse relato sobre minha experiência porque decidi que voltarei a postar. Voltarei a usar o meu instagram. Sendo que, sinceramente, acho que meu comportamento em relação às redes sociais vai mudar.

Nesse meio tempo li bastante livros sobre Budismo, comportamento humano e artigos científicos sobre Minimalismo Digital e saúde mental. Ideias pipocaram na minha mente quando fiz Mapas Mentais no papel com minhas canetas coloridas. Repensei minha vida acadêmica, temas para pesquisa e nem a minha espiritualidade foi poupada. Percebi que minhas certezas estavam fundamentadas em castelos de areia e que, não há nada de errado em simplesmente buscar uma base mais sólida.

Em uma semana ocorreu uma reviravolta na minha vida e, claro, não foi apenas por causa da pausa nas redes sociais, mas porque abri espaço pra pensar, refletir, indagar, falar comigo mesma, em vez de rolar o feed continuamente.

E assim acho que novamente embarco nos trilhos do minimalismo, do essencialismo, do mínimo viável para que eu possa viver em paz, com saúde mental, concentração e foco no que realmente é importante.

A partir de agora se inicia uma nova era na minha vida. Resgatando partes de mim que ficaram no passado, reconstruindo a imagem que tenho de mim mesma e tendo mais clareza sobre como quero ser vista e o que quero fazer nas redes sociais.

O mais importante é que quero usar as ferramentas que a internet proporciona ao invés de deixá-las que me usem e escorrer por seus ralos enquanto rolo o feed continuamente.