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Em busca dos meus antepassados Sefarditas

Faz um tempo que eu não faço isso aqui: escrever textão. Na verdade, eu nem me lembrava sobre o que eu havia escrito na última vez em que cliquei “publicar” aqui no blog, mas foi vendo o que precisava ser atualizado aqui que me dei conta que eu havia prometido a mim mesma “passar a escrever bastante”. Falha minha, a vida foi acontecendo e eu me esqueci daqui.

Do começo do ano pra cá descobri algumas coisas interessantes sobre a minha família, o que me levou a começar um novo hobbie – que está ganhando uma proporção maior que uma simples diversão – logo após receber os resultados do meu exame genético do Genera.

Sabe, desde pequena eu tenho um fascínio, quase que uma fixação por culturas diferentes, embora eu não tenha viajado muito por aí. Me atraio, principalmente, pelas línguas e formas de diferentes povos perceberem que há alguém maior que eles, ou seja, a percepção do transcendente e suas organizações em religiões. Eu havia rompido com o catolicismo ainda adolescente e a minha primeira busca foi no Kardecismo, mas não encontrei muito fundamento naquilo e logo ampliei o meu leque estudando ao longo dos meus 39 anos sobre budismo, hinduísmo, brahmanismo, taoísmo, sikhismo entre outros.

Mas vou deixar o assunto de religiões para um outro momento. Hoje o foco é na genealogia.

Fiz o teste de DNA pelo Genera

Ao receber os resultados do meu teste genético, me deparei com 80% pertencente à Europa, divididos entre Portugal, Espanha, Finlândia (!), Alemanha e França. Outros 6 % vindo do Marrocos, Tunísia e Argélia. 12% de Judeus (Portugal, Espanha e Israel). Mas, como assim judeus? Será que teria alguma ligação com os Sefarditas que vieram logo após a colonização do Brasil, fugindo da inquisição? Mas, se meu DNA judeu viesse daquela época, em torno de 1500, não seriam 12%, não é mesmo?

Foi com esses questionamentos que comecei uma busca incessante e não tive outra opção a não ser começar, do zero, a criar a minha árvore genealógica.

No começo é desanimador. Afinal, quem vou colocar na minha árvore? Meus pais, avós, alguns tios… pergunto aqui, pergunto ali, um me diz uns nomes, outro diz que não lembra, outro fala que não quer saber daquele povo de lá (eita, nordestinos arretados!), mas não desisti. Sabe, acho que todos que querem estudar genealogia precisam entender algo antes mesmo de começar: isso exige paciência. Mas é lindo demais.

Criei minha árvore Genealógica no Family Search e no My Heritage

Criei minha conta no Family Search e no My Heritage e assim comecei. No Family Search conseguimos encontrar muitos documentos digitalizados de cartórios e paróquias, o que torna essa busca ainda mais encantadora. Na minha graduação em Medicina Veterinária, quando comecei a estudar radiologia, não enxergava nada numa radiografia, além de manchas brancas num fundo preto. Com o tempo, bastava olhar por alguns segundos e já identificava uma inflamação, uma calcificação etc. Mas, o que isso tem a ver com árvore genealógica? Tem a ver que quando lidamos com alguns documentos, à primeira vista a reação é rir e desistir, mas com o tempo acabamos pegando um documento como esse e lendo inteiro, já indo direto aos nomes que interessam. Isso é treinar o olhar!

Um exemplo de certidão disponibilizado pelo site Family Search. Com o tempo, acabamos nos acostumando com a letra.

O que eu achava ser impossível foi se tornando realidade. Consegui descobrir muitas informações sobre a minha família. Descobri a Hemeroteca Digital, na qual contém um acervo enorme de microfilmagem de jornais antigos, a partir do Séc XIX. Encontrei anúncios de trisavôs, abaixo-assinado de um pentavô contra o imposto sobre o fumo, minha bisavó passeando pela cidade e até mesmo o nascimento de uma filha da minha outra bisavó que ninguém da família sabia… sim, achei alguns casamentos que foram secretos, o que explica o silêncio da família sobre algumas pessoas. Mas isso tudo é a história das minhas origens, da qual tenho muito orgulho, afinal, são pessoas.

Irisman Fernandes Lacerda, minha bisavó por parte de pai. Jornal Gazeta de Leopoldina, 1918.
Francisco Theodomiro de Carvalho, meu pentavó por parte de mãe. Jornal O Piauhy, 1872.

Minha busca caía em detalhes. Precisamos estar muito atentos a datas. Cada detalhe acrescentado, ainda que irrelevante, pode ser a chave de alguns mistérios. Passei muitas madrugadas (e ainda passo) em claro, lendo letrinhas miúdas na tela do computador, tentando juntar x com y. E foi num dia desses, despretensiosamente, quando descobri que a tia do meu pai não se chamava Iná, mas sim Inah, que corrigi o nome e “deu match” com uma outra árvore já toda pronta. Quando aceitei a junção das árvores, mal pude imaginar o que estava acontecendo: minha árvore genealógica subiu tanto aos meus antepassados, que chegou ao ano 400, passando por Antônio Bicudo Carneiro, um judeu sefardita que veio para o Brasil fugido da Inquisição Espanhola e Portuguesa. Foi como encontrar ouro após uma longa jornada de busca.

Antônio Bicudo Carneiro, Judeu Sefardita

Eu não imaginava que chegaria até um judeu certificado pela CIL, o que me concederia a possibilidade de solicitar cidadania portuguesa por via sefardita. Isso sequer estava nos meus planos, mas a partir desse momento, a chave virou. A emoção de encontrar um judeu conhecido na história e sua descendência, ligá-lo à família da mãe do meu avô, isso tudo era real. Eu só via acontecer com os outros, mas é uma emoção indescritível. Algo mudou em mim, pois é muito diferente saber uma porcentagem num exame de DNA de ter ali, na minha frente, o nome, a história de uma pessoa real, que se não existisse, eu não estaria aqui hoje.

O sentimento que passei a ter foi de que eu não descobri essa informação por acaso. Creio muito que nada é por acaso e tudo está nos planos de Deus. Há um propósito até para as pequenas coisas, quanto mais com as grandes, como isso. Antes, eu apenas estava olhando para nomes já conhecidos e muito falados em minha família. Depois da descoberta, isso se tornou uma missão. Mas… missão de que?

Nem eu sei. Mas há algo a ser resgatado nessa minha busca.

Decidi mergulhar profundamente nessa busca

E foi a partir daí que comecei a entrar em contato com genealogistas, historiadores e rabinos. Tornou-se meu objetivo, uma missão pessoal, saber tudo o que for possível sobre o assunto. Devorei dois livros da Anita Novinsky em duas semanas e algo maior está se concretizando em minha vida. Há coisas na vida que são escolhas nossas, e que simplesmente arcamos com as consequências. Mas, há outras coisas, como o nosso passado, nossa história, nossos ancestrais, que simplesmente estão ali, queiramos ou não. A Verdade sempre está a nossa espera. Podemos fechar os olhos para ela e fingir que não existe, ou podemos simplesmente abraçá-la. Mas às vezes, ela fica num canto sem nos incomodar. Não é o que tem acontecido. A Verdade tem gritado, e gritado alto. Não há como fingir que ela não está ali.

Há muito mais a ser descoberto. Há um detalhe importante nisso tudo: Antônio Bicudo é um dos judeus sefarditas certificados pela CIL, mas não é o único que aparece na minha árvore. Na verdade, são muitos, que mal consigo mapear. Outro fato é que ainda não consegui subir mais a árvore genealógica por parte da minha mãe, tenho achado a pesquisa pelo Nordeste mais truncada, diferentemente de Minas Gerais e Estado do Rio de Janeiro. Ainda há muito a ser desvendado.

A busca continua, mas uma parte de mim já não é mais a mesma de antes de todas essas descobertas. Eu quero saltar pra abraçar a Verdade, mas ainda estou quietinha, de olho nela. Sei que não vai fugir dali, pois o que é, sempre é, por toda a Eternidade.

Logo contarei mais sobre essa minha saga. Prometo atualizar com mais frequência.

Me conta, você conhece as origens da sua família?

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4 comentários

  1. Interessantíssima sua busca. Já fiz em uma ocasião cadastro no family search mas não tive tanto retorno por conta da falta de informação de meus antepassados, legal saber que deu certo pra você.

  2. Gratidão! Você e sua história tem sido muito importantes pra mim, que estava começando a olhar pro meu passado e descobrindo a importância das minhas raízes pra entender quem sou e quem quero ser. Levei o processo pra terapia e tem sido enriquecedor. Montando minha árvore e em breve realizarei o teste também.

    1. Ah, depois me conta como tem sido esse processo de montar sua árvore! É trabalhoso, demora, mas é tão incrível quando começamos a entender a nossa história e nossas raízes… Boa sorte na sua pesquisa!