Nos estudos de Comunicação, sempre relembramos as principais escolas desde a época do rádio: cada nova invenção substituirá a anterior, que desaparecerá. A TV substituirá o Rádio. O livro digital acabará com o impresso. Mas eles nunca acabaram, muito pelo contrário, eles coexistem.
Os avanços tecnológicos chegam trazendo inovações, praticidade, transformam quilos de papeis em bits, que cabem na palma das nossas mãos. Em vez de carregar meus cadernos de Bullet Journal, meus diários, cadernos do doutorado, eu posso simplesmente ter tudo no meu celular, ou no iPad, escrever com caneta digital, escanear (por meio de fotografia) páginas e páginas de textos… mas isso realmente é o melhor para os estudos? Como fica a cognição?
Hoje já temos vários estudos caminhando pra esse ponto: apreendemos, com todo o potencial, aquilo que digitamos? Que interferências o digital trouxe no processo do aprendizado? O que a fricção da caneta no papel poroso tem de diferente do movimento de digitação dos dedos em um teclado? Os estudos são muito interessantes, qualquer dia volto aqui pra falar sobre eles (esse não é o tema central do meu texto de hoje). Mas o que venho falar é sobre o equilíbrio.
Em vez de escolher um lado, a turma do papel ou a turma do digital, por que não usar os dois? Lá na época do Vida Minimalista eu levantei a bola do movimento Paperless (sem papel). Saí digitalizando tudo, concentrando minha vida no meu notebook. Na verdade, eu usava um ainda menor, um netbook (quem lembra?). Anotava as aulas no OneNote, escaneava os artigos em papel pro PDF, digitalizei meus documentos, passei tudo pro digital. Mantive em papel apenas o que fosse realmente necessário. Tudo ao meu redor ficou mais leve e eu sabia onde encontrar de tudo. Mas não posso negar que os tempos eram outros. Não tínhamos essa enxurrada de estímulos das redes sociais (isso era lá pra 2012) e de lá pra cá muita coisa mudou. Agora, a luta não é deixa o papel de lado e viver aproveitando todos os benefícios do digital, mas sim, reduzir o tempo de tela e voltar mais pro analógico, se conectar mais com a “vida real” – mas o que é real? o digital não é real? – e dar um descanso mental pra enorme carga de informações que recebemos ao ligarmos o computador, ou ao desbloquearmos o celular.
Ano passado eu tentei voltar ao máximo pro papel. Fiz um experimento de usar agenda, planner, cadernos, tudo no papel. Comprei canetas – ai meu hiperfoco em papelaria – e fiz tudo o que eu pude no papel. No fim do ano fiz um balanço e percebi que algumas coisas realmente precisavam estar no digital, enquanto outras poderiam continuar no papel.
Os cadernos são o meu descanso mental. É quando meus olhos desviam das telas e meu corpo trabalha de forma diferente, analógica. Recorto imagens impressas pra colar no meu diário. Escrevo caprichando a letra, colo um adesivo aqui, um washi-tape ali… não me preocupo com o tempo, pois aquele momento é reservado pra isso. Imprimo um artigo e uso o marca-texto, puxo seta, anoto nas margens. Mas também vem o momento em que passo minhas anotações pra um aplicativo como o Notion, UpNote e tenho tudo pesquisável na palma da minha mão.
Equilíbrio. É tudo o que busco nessa corda-bamba do digital e do analógico. Eu não preciso escolher um dos dois, eu escolho usar os dois.
E você? Tem a vida toda no digital ou prefere o analógico? Anda na corda-bamba pendendo mais pra um lado ou pro outro ou consegue equilibrar entre os dois? Me conte aqui nos comentários como é o seu cotidiano!
Estou sempre em busca de equilibrar os dois. E, lendo seu post, fui tentar buscar na memória se já fui 100% digital. Lembrei que uma vez tentei fazer um bullet journal no Evernote! Hahahah Funcionou por um tempo mas tem algumas coisas que são boas mesmo no papel.
Estou sempre tentando equilibrar justamente pelo mesmo motivo que você citou: um descanso de tela. Pode ser até rapidinho mas faz diferença.
Vamos seguir!
Olá, Camile! Gostei muito da sua reflexão! Eu sempre fui do time do papel. Desde os 13 anos escrevo diários e a minha maior alegria é poder comprar um caderno novo. Tenho ainda comigo meus cadernos da faculdade, todos de 16 matérias e completamente lotados de registros. Naquela época eu escrevia com tanta força que as páginas ficavam marcadas e era quase possível ler o que tinha escrito só passando os dedos pelas folhas. É claro que isso gerou um desgaste físico e até dores musculares. Me lembro de que na época do vestibular eu até tive que ir pro digital, porque meu braço não aguentava mais escrever. Foi difícil ter que passar por esse processo de mudança. Depois, comecei a tentar escrever com mais leveza, mas isso me tomava mais tempo do que antes. E agora que o meu tempo está ainda mais escasso, vejo o digital como a melhor opção. Teclar é muito mais rápido (e prático) do que escrever, mas confesso que ainda me parece estranho. Por isso, concordo com você. Acho que precisamos de equilíbrio, refletindo sempre sobre o que faz mais sentido em cada etapa da nossa vida e escolhendo os recursos que mais facilitam a nossa vida.
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