Quando conheci o conceito do minimalismo, não havia muitas pessoas escrevendo sobre isso, nem em blogs nem em livros. Blogs como Zen Habits, Be More With Less, Unclutterer entre outros eram algumas de minhas fontes de inspiração sobre o assunto, e quanto mais eu os lia, mais olhava ao meu redor e me sentia sufocada com tantos pertences que havia acumulado há anos.
No meu armário, além de muitas roupas, também se encontravam jogos da minha adolescência, pastas de recordações, caixas de brinquedos – um dia meus filhos vão brincar com isso – e objetos que eu sequer sabia que estavam ali. Era tudo em grande quantidade, que se alguém me perguntasse o que eu tinha guardado, eu não saberia responder de forma objetiva.
Na minha escrivaninha – que mal fechava a gaveta – papeis pulavam por toda parte. Cadernos antigos, anotações, xerox de aulas que eu não tinha mais e muitas, mas muitas canetas de todos os tipos.
Se percorrêssemos os olhos pela estante da sala, mal conseguiríamos encontrar um CD ou DVD específico tamanha era a bagunça, provocada também, claro, pelo excesso de itens.
Meu ponto de partida foi quando, depois de consumir bastante informação sobre minimalismo em blogs estrangeiros, ler alguns livros sobre budismo – que por sinal, recomendo a todos que querem aprender sobre o desapego – e participar de algumas listas de email sobre organização e GTD, houve a tragédia das enchentes na Região Serrana aqui no Rio de Janeiro.
Sei que já contei esta história diversas vezes, mas é sempre bom relembrar. Por mais que leiamos sobre algo, nos interessemos por determinado assunto, às vezes precisamos de algo que nos dê um empurrão, e infelizmente foi uma tragédia como esta que me fez repensar se havia mesmo a necessidade de manter guardado tudo o que eu tinha acumulado por anos. Foi então que comecei, sem dó nem apego, a esvaziar meu guarda-roupas.
Depois do primeiro declutter, não consegui mais parar. Eu queria reduzir ao mínimo meus pertences, em busca de uma nova vida mesmo, como um recomeço. A sensação de ter o controle sobre minha vida me motivou a me desfazer de tudo o que não fazia mais sentido manter. Roupas, livros, artigos de papelaria, brinquedos, CDs e DVDs… quanto menos sobrasse melhor, e números, nesta época, significavam muito pra mim.
Qual seria o número ideal de peças de roupas? E de livros? Quantos pares de meia eu deveria ter?
Busquei respostas em blogs e me animava ao encontrar projetos minimalistas de pessoas que viviam com 100 objetos. Mas pra minha tristeza, após contar minhas roupas, eu via claramente que nunca conseguiria me encaixar neste modelo de vida. Isso significava que eu precisaria me esforçar mais para ser digna de ganhar o rótulo minimalista, como um prêmio em plaquinha a ser colocada na parede do meu quarto.
Algo estava errado. Eu jamais conseguiria ter um número x de objetos. Mas eu queria ser minimalista. Queria desfrutar dos benefícios que uma vida menos acumuladora me proporcionaria. E foi ao longo dos meses, dos anos, que aprendi algumas coisas em relação ao minimalismo:
1. Minimalismo não é um rótulo
Eu não preciso sair por aí com uma faixa na testa dizendo que sou minimalista. Nem tampouco preciso seguir padrões pré-estabelecidos para fazer parte de um grupinho. Isso não é um clube, é nossa vida individual.
2. Não viver em caixinhas
Se eu sou minimalista, LOGO, devo agir de tal e tal forma, pensar de tal e tal maneira etc. Não, eu não preciso. Claro que uma reflexão leva a outra, uma atitude pode estar relacionada a outra, mas não precisamos adotar um bloco de estereótipos para nos considerarmos fazendo parte de algo.
Um exemplo? Pessoas minimalistas vivem em casas quase sem móveis, num ambiente com cores claras, móveis modernos, têm sobre a mesa apenas um computador, uma caneta e blá blá blá. Não! Esqueçam isso. Vocês podem pensar o minimalismo e manter suas almofadas coloridas indianas sobre o sofá retrô e manter sua parede da sala pintada de azul turquesa. Acredite!
3. Não precisamos competir
Tenho percebido que alguns minimalistas parecem competir em relação a quantidade de roupas, itens, livros etc., mas a transformação pessoal deve vir de dentro, não por um motivo externo. Ninguém precisa se comparar a ninguém, o processo de autoconhecimento e desapego deve ser pessoal e por motivações internas e não ligadas ao ego.
4. Quantidade não é importante
Qualidade sim. Qualidade de vida, qualidade do que decidimos manter em nossas vidas. Qualidade das amizades, dos livros, enfim, números pouco importam. O que importa mesmo é se você vai sentar-se em sua casa, respirar fundo, olhar ao redor e se sentir feliz, pleno e grato por estar em um ambiente agradável com coisas que te fazem bem, e não em um ambiente cheio de tralhas acumuladas que só servem para ocupar espaço e não significam nada.
5. Não precisamos nos desfazer do que amamos
Se você ama livros, mas quer adotar o minimalismo como princípio de vida, qual o problema em manter sua biblioteca pessoal? Nenhum problema. Esteja cercado daquilo que você ama. Se sua paixão é aquela coleção de carrinhos sobre a prateleira, não há problema algum em mantê-la. A questão em foco é desapegar daquilo que não faz mais sentido em suas vidas. Sabe aquelas roupas que não cabem mais? Aqueles sapatos que te apertam e você não usa? Aqueles livros infantis que você tem guardado numa caixa sobre o guarda-roupa há anos? Desapegue. Mas nunca se sinta culpado em manter o que você realmente gosta.
Escrevi este post pra tentar explicar a quem está conhecendo o conceito minimalista agora, numa tentativa de mostrar que você não precisa sair de um extremo diretamente ao outro. Você não precisa viver com pouco, mas com o suficiente. Você não precisa abandonar o que ama para se enquadrar em uma caixinha rotulada. Abandone apenas o que não precisa estar com você. Objetos, sentimentos, tudo o que não fará falta ou está te prejudicando. O resultado será mais espaço para coisas boas entrarem em sua vida. Sim, coisas boas, e jamais um sentimento de tristeza ao forçar algo que você não é.
Esvazie suas gavetas, limpe seu ambiente. Sente-se com os olhos fechados e respire fundo. Ainda não se sente feliz no seu lar? Recomece o processo. Só você saberá o ponto de equilíbrio, o caminho do meio. Tente ouvir aquela voz que vem de dentro. Não busque externamente, em caixinhas e rótulos, mas procure dentro de você sua própria essência.