Quando temos um blog pessoal, como o meu caso, queremos utilizar um espaço para simplesmente compartilhar pedaços do nosso dia-a-dia, nossas descobertas, reflexões e enfim, uma série de sentimentos e palavras que dizem muito sobre nós. Com isso, atraímos um público que gosta do que escrevemos, que se identificam conosco, o que é fantástico.
No entanto, às vezes nossos leitores compartilham um ou outro post em suas redes sociais e outras pessoas acabam chegando até o blog por causa de um assunto, mas que não necessariamente se interessam por todo conteúdo publicado aqui. Mas afinal, como agradar a todos? Simplesmente não há como agradar a todos. E isso não é algo negativo, muito pelo contrário.
Meu público – segundo a pesquisa que fiz – é um público que gosta de ler sobre minimalismo, dicas de yoga, vegetarianismo, e claro, acompanhar meu dia-a-dia e como eu vivencio e aplico as transformações na minha vida. É verdade que eu vejo por aí uma tendência a profissionalizar demais blogs, mostrando uma realidade meio plastificada, quase sem vida, e essa nunca foi – nem será – meu objetivo aqui neste espaço.
Um blog é um recorte das nossas vidas editado por nós mesmos, isso é verdade, mas é possível tentar levar o aconchego, o carinho e emoções através de palavras, imagens e vídeos. Claro que ainda assim é algo editado e com uma certa lacuna entre a vida real e as publicações, mas com cuidado dá pra estreitar esse abismo tentando se aproximar dos leitores e mostrando que: somos blogueiros? Sim! Mas somos seres humanos com os mesmos problemas, insatisfações, crises existenciais e apegos que todos os outros.
O que ocorre hoje é que cada vez mais vemos vidas editadas e perfeitas, extremamente egoicas, e isso é apenas a ponta de um iceberg de alguém. Ninguém é perfeito, muito menos eu. E quando escrevo isso, dou um longo suspiro tirando dos meus ombros o peso de uma responsabilidade de ser um exemplo a ser seguido.
Eu sou como cada um de vocês que lê meu texto. Uma pessoa que está aqui para aprender constantemente e ser apenas eu, em busca de autoconhecimento e transformações. A diferença talvez seja que eu me exponho mais, compartilho em um blog sobre minhas descobertas, meus tropeços e aprendizados. E sim, eu poderia escrever apenas em um diário guardado na minha gaveta, mas escolhi compartilhar, fazer essa troca, o que tem sido transformador.
Uma das coisas que aprendi muito, é que quando nos incomodamos com o outro, na verdade, o incômodo está em nós, e não no outro. E isso mostra que devemos apenas olhar para dentro e buscar a verdadeira causa dessa impaciência, o que está em nós que nos causa essa aflição. Porque quando criamos expectativas e esperamos algo de alguém – que sequer conhecemos – pode ter certeza, algo vai dar muito errado. A frustração já foi encomendada no momento em que criamos uma expectativa no outro. E acreditem, o outro nada tem a ver com isso.
Quando esperamos que o outro aja conforme o nosso senso de “correto”, pode anotar que virá uma decepção. E, vamos supor que o outro, sabendo dessa expectativa de alguém, passe a agir de forma a não promover frustrações. Será que é uma vida feliz? Certamente não.
Tenho refletido muito sobre o que vem acontecendo na internet – em vários âmbitos – e uma coisa é certa: não se pode esperar que o outro seja aquilo que você quer. Isso falo em relação a blogueiros, mas pode ser aplicado em diferentes casos. Cada produtor de conteúdo, cada blogueiro, cada personalidade tem seu público-alvo com o qual se identifica. Se você se incomoda com alguém, com a forma como escreve ou com o conteúdo publicado, isso apenas indica que você não é o público-alvo dessa pessoa, e não que ela tenha que se adaptar às suas expectativas.
Eu sou professora de yoga? Sim! Mas antes disso, eu sou comunicóloga, especialista em mídias digitais e pesquisadora sobre internet. Em uma das pesquisas realizada em 2014, estudei justamente a construção da identidade religiosa através das redes sociais. Eu sou apaixonada por tecnologia e internet e é incrível como ainda exista a percepção de que espiritualidade e iluminação não combina com tecnologia. Que para seguirmos um grande mestre, devemos renunciar ao twitter nosso de cada dia.
Ora, estamos em uma era em que o Budismo foi o pioneiro na difusão de sua filosofia através de mídias digitais e transmissões de cerimônias ao vivo por streaming. Em que se estuda Vedanta com bons mestres através de cursos online. Uma era em que eu, por exemplo, talvez não tivesse me tornado professora de yoga hoje se, em 2001, não tivesse feito uma pesquisa no site de busca Cadê pra saber quem era Shiva, tendo ali meu primeiro contato com o Hinduísmo.
Sou grata diariamente por termos a oportunidade de acesso a conhecimentos antigos preservados através de projetos online, documentários incríveis disponíveis pelo YouTube, de termos uma rede social como o Facebook para conversarmos com familiares distantes , alunos, professores e amigos de profissão, ainda que tenha seus problemas. Por termos tantas opções de tecnologia online com as quais podemos crescer, aprender, interagir e se transformar.
O que nos resta é sermos seletivos. Internet é apenas uma ferramenta na qual podemos escolher o que queremos receber, e na qual nada é permanente. Podemos seguir e “des-seguir” com a velocidade de um clique, e isso é maravilhoso! Sim, eu já tive uma época em que precisei me esvaziar, me desconstruir em relação a muitas coisas, e até torcia o nariz para as redes sociais, mas ainda bem que mudamos! Porque, como sendo uma ferramenta, podemos escolher de que lado podemos ficar. E eu escolho o lado que me faz bem.
Por um mundo com menos palavras rudes, com menos reclamações sobre conteúdos em meios digitais, e principalmente, com menos expectativas sobre o outro. E que possamos aproveitar as oportunidades que a vida nos dá, seja fazendo um retiro com detox digital, ou seja simplesmente twitando uma frase bonita que vai fazer alguém, antes triste, sorrir. O que vale, no fim de tudo, é o equilíbrio, é trilharmos sempre pelo caminho do meio.
Que possamos ser sal da terra e luz nessa imensidão da internet.