Eu mal acreditei quando abri a sacola empoeirada esquecida no canto de um armário na casa dos meus pais. Para mim, ali teria alguns cadernos velhos da época da escola, ou até mesmo livros antigos, pelo peso e volume da sacola. Mas o que encontrei ali foi muito mais valioso que simples papeis velhos: meus diários.
Desde julho deste ano (2023) eu venho retornando, lentamente, ao hábito de escrever à mão. Eu, que só escrevia no computador, e até mesmo fazia uma espécie de diário no 750words.com sem muita rotina, comecei anotando as matérias da graduação em Ciências da Religião num caderno. Depois, conheci a linha dos Cadernos Criativos da Cícero e me apaixonei. Depois, fui pro Caderno Inteligente, e a cada item que comprava, minha vontade de escrever à mão só aumentava.
No começo a minha letra era muito feia. Eu percebia que não tinha muito controle sobre o ajuste fino da minha mão sobre a caneta. Pensava em escrever um F e saía outra coisa. Às vezes travava numa palavra, repetia letras, esquecia de outras. Isso foi algo muito, mas muito esquisito e vocês não imagina o quão assustada fiquei vendo que durante uma escrita corrida eu pouco tinha controle sobre os movimentos da minha própria mão.
Eu sabia que precisava escrever mais e mais. E continuei. Hoje olho pros meus cadernos e fico feliz em saber que melhorei muito esse controle e já consigo escrever por um longo tempo sem sentir cãibras, dores no pulso e no ombro.
Mas, voltando aos diários, vou contar um impasse que eu estava nestes últimos meses.
Eu sabia que queria algo com esses cadernos. Eu queria ter um registro da minha vida que eu pudesse armazenar anualmente na minha prateleira junto aos meus livros. Algo que eu pudesse carregar comigo para onde eu fosse. Que tivesse ali meus conhecimentos, aprendizados e sentimentos. Fotos, imagens, recortes. Eu não sabia bem o que era isso que eu queria. Não era uma agenda. Não era um “querido diário” infantil.
Li livros sobre tudo isso. Bullet Journal, Listas, GTD, Commonplace Book, Journalling, e tudo o que vocês puderem imaginar. Eu entrava no Pinterest e encontrava cadernos tão perfeitos, com uma caligrafia tão linda que eu tinha que dar zoom na imagem pra me certificar que aquilo realmente havia sido escrito por alguém. Pareciam impressão. O meu sentimento era de que eu nunca conseguiria fazer um caderno desses, pois minha letra ainda estava meio caótica, eu não tinha as folhas perfeitas e nem as canetas adequadas. Eu precisaria investir muito tempo e dinheiro pra chegar a esse nível. Não, não era ainda isso.
E eu percebia que não tinha opções. Testei de tudo. Peguei minha caderneta da Cícero e comecei as Morning Pages, aquela prática de escrever 3 páginas pela manhã. Mas fiquei agoniada pois, de manhã o tempo é mais corrido pra mim e enquanto eu escrevia, pensava que ainda precisava trocar a água do cachorro, passar o aspirador, colocar a água do beija-flor, arrumar a cama, fazer comida etc. Eu simplesmente não tinha cabeça pra me concentrar. Mas à noite sim. Então mudei meu caderno pra Night Pages, e então, aí sim, conseguia escrever muito mais que 3 páginas.
Então veio o Bullet Journal e testei usá-lo ali mesmo, no meu caderno do Morning Pages que virou Night Pages que virou Bullet Journal. Mas aí achei que ele ficou tão frio, que comecei a escrever meus sentimentos em textão no meio dele. Hoje ele se tornou um caderno caótico, de tudo, sem um propósito definido. E assim, ele ficou bem legal, acompanhando minha mente a cada dia.
Mas foi apenas folheando meus diários, hoje que eu tive um insight. Eu comprava, a cada ano, uma agenda com uma página pra cada dia. E ali eu escrevia de tudo um pouco, de forma espontânea. Podia ser um aniversário, uma tarefa, o que fiz no dia, um professor chato, um encontro com as amigas, um sentimento. Cartinhas de amor nunca enviadas eram anexadas. Fotografias. Embalagem de bombom que ganhei do paquera. Bilhetinhos das amigas recebidos no meio da aula. Tudo, tudo ali, naquela agenda que cabia de tudo um pouco.
Então entendi que é isso que eu buscava, só não tinha um termo. Eu queria escrever, de forma espontânea, sobre o que viesse à minha mente naquele dia. Sem fórmulas. Sem estrutura. Sem seguir um método. Sem nomes em inglês. Tudo o que eu busquei, durante esse último semestre, foi retornar ao hábito de ter uma agenda e escrever livremente, como um diário, nela. Joguei todos os nomes em inglês no lixo e fiquei com apenas uma única descrição: diário.
Simples, como antigamente. Descomplicado. Espontâneo. E assim eu vou (re)começar um hábito que eu havia pausado por um tempo na minha vida.
Quem vem comigo?
Quem já faz isso?
Lindo relato, Camile! Que esta seja uma jornada de autodescoberta, de conexão e de muita criatividade!
Que seja pra nós duas, que estamos juntas nessa (re)descoberta dos diários! ♥
Tambem tenho todas as minhas agendas/diarios! Desde 1990 🙂 É um dos meus tesouros mais valiosos na vida!!! Sempre retomo algum para ler e comparar a Simone daquela epoca com a de agora 🙂
Estou adorando essa experiência de ler como eu era antigamente. Muita coisa mudou, mas a essência é a mesma! ♥
Eu amava escrever em diários! Lembro que quando tinha 14 anos fiz um trato comigo mesma de que toda noite, não importava o que acontecesse, eu iria sentar na escrivaninha e escrever sobre o meu dia. Não sei como mas consegui manter o hábito durante todo o ensino médio e alguns meses depois de terminar! Eu adorava esse momento onde eu contava sobre meu dia e meus planos. Mas quando comecei a trabalhar como redatora acabei perdendo o hábito porque eu ficava digitando o dia todo e o costume de escrever a mão foi se perdendo haha. Tentei voltar várias vezes, mas nunca dava certo. Hoje aceitei o digital e sigo escrevendo por lá. Mas espero um dia voltar a escrever a mão 🙂