Categorias: Comportamento

A difícil tarefa de ler um livro na era das distrações

Estudo Jornalismo, e em uma das disciplinas – Jornalismo e Internet – sempre levantamos a questão do formato de texto para a web. “Tem que ser texto curto, com mais imagens, interativo“, afirma o professor que trabalha em um grande jornal, quando nos explica sobre o comportamento do novo leitor de internet. Não adianta escrever muito, no jornal online precisamos de textos curtos ou o leitor sairá da página.

Estamos na era da informação (ou seria da distração?), e a forma de comunicação tem mudado a cada dia. Fica até difícil acompanharmos toda essa transformação e claro, arriscar analisar uma situação em mudança é um tanto leviano pelo simples fato de que períodos históricos são melhores analisados quando nos afastamos dele. Mas, uma coisa é certa: estamos tão sobrecarregados de informação – nunca na história da humanidade tivemos tantas possibilidades – que parecemos uma formiga no açucareiro. Queremos apanhar o mundo com apenas duas mãos.

A questão é, em que tipo de leitor estamos nos transformando? Hermano Freitas, em seu perfil do Medium, traduziu recentemente um texto de Hugh McGuire sobre por que não conseguimos mais ler. McGuire fala sobre como as distrações digitais, como por exemplo checar email a cada 10 minutos e conferir o twitter, nos dá uma sensação de prazer causada pela liberação de dopamina, hormônio responsável pela sensação de bem-estar e felicidade. Assim, ler um livro físico – ou qualquer texto grande – de forma contínua, nos faria sentir falta dessa sensação de checar se chegou alguma mensagem importante, o que nos faz parar de tempos em tempos para buscar mais uma dose, mesmo que não tenha nada novo nas nossas redes sociais.

Segundo McGuire,

“aprender a ler livros de novo” pode ser também uma forma de libertar minha mente destes detritos digitais empapados de dopamina, deste tsunami de informações digitais sem objetivo, algo que teria um benefício duplo: leria livros de novo e recuperaria minha mente.

Insistir na leitura, portanto, seria como uma meditação. Seria como livrar nossa mente das distrações externas e, mais que isso, lutar contra o fluxo da busca incessante de prazer em outras atividades. Claro, há quem fique completamente confortável durante uma leitura longa, não podemos generalizar, mas o que vem acontecendo com as novas tecnologias é que pegar um livro em papel com longos blocos de texto está competindo com estímulos provocados pelos meios digitais.

A questão é, será que o antídoto para tantas distrações e buscas por prazer em pequenas gotas de informação seria uma leitura mais consistente de um livro físico? Será que o livro digital também nos traria essa atenção plena ou se encaixaria no esquema das distrações digitais? A resposta eu não sei, mas por via das dúvidas, deixarei um clássico na minha cabeceira.

E você, como lida com as distrações? Consegue sentar-se calmamente e ler um bom livro ou fica distraído checando as redes sociais e interrompendo a leitura?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

9 comentários

  1. Esse texto foi pra mim ? Rsrs
    Me sinto assim, querendo ler várias coisas que vão me ajudar mas o que fazer com a distração a meses não finalizado um livro. Só na minha bolsa de trabalho tenho 3 começados fora os e-books no celular.
    Preciso meditar e insistir mais nos meus livros.

    1. Pois é, Danielle! Muitos estão se identificando com isso. Acho que o jeito é insistirmos na leitura e deixarmos as distrações de lado (desligando o celular, por exemplo). No final, o próprio ato de ler seria uma forma de meditação. Não garanto que vamos conseguir de primeira, mas com o tempo nossa mente se reeduca. 😀
      Beijos!

      1. No meu caso não é bem o celular aí me distrai …percebi que é minha mente e o ambiente mesmo.

  2. Interessante foi perceber que tive que retornar nesse texto para terminar de ler porque algo me interrompeu. Rs Mas hoje li bastante. Tenho usado a técnica pomodoro para evitar as distrações durante a leitura. Mas super me pego esperando notificações ainda que tenha me comprometido a não olhar. Quando acontece, me acalmo dizendo que nada vai acontecer em 25 minutos que não possa esperar e volto minha atenção ao texto. A sensação de abstinência é real, Black Mirror acontecendo agora. Temos mesmo que lutar contra isso.

  3. Hoe, Camile! Tudo bom? 🙂
    Ultimamente, tenho me penalizado por não conseguir ler um livro decentemente. Há, pelo menos, três na fila aqui, dois inacabados e um que não se aguenta de ansiedade para ser aberto, sempre acenando para mim com sua lombada alaranjada. O mesmo vale para a atenção dedicada aos estudos, que, depois de um certo tempo pousada sobre livros e cadernos, começa a zanzar por outros cenários (e telas) feito uma borboleta inquieta, sedenta por outros estímulos.
    Quando você fala que leitura virou uma atividade de meditação, faz todo o sentido; nesses dias, houve uma tempestade e a energia elétrica acabou aqui em casa durante a noite. Sem sono e algo para fazer, resolvi ler um desses livros que citei sob a luz das velas. E não é que duas horas sem distrações e tecnologia rendeu muito mais do que as últimas duas semanas?
    Também não cheguei às respostas para o que você perguntou, mas o livro também já está na cabeceira para formar um novo hábito e reduzir o vício por estímulos diversos…
    Obrigada por mais um momento construtivo de reflexão, Camile!
    Beijos, flor~

  4. Meu Deus ! Este texto foi pra mim…
    Preciso definitivamente deixar o celular desligado e bem longe na hora em que eu estiver lendo…
    Resolvi reiniciar a tentativa de uma Vida Minimalista e busquei por você no Facebook para dar a largada.
    Logo de cara, um tapa na cara (risos!)
    Texto perfeito para quem quer mudar, de dentro pra fora… de fora pra dentro…
    Muito bom recomeçar minimizando estímulos externos.
    Let’s go! 😉

  5. Entrei no seu blog pela primeira vez e não foi por acaso! Eu lia muito, e era estudiosa, agora paro de estudar toda hora para dar uma olhada na internet, é com o um vicio mesmo. E nem lembro o ultimo livro de ficção que li. Triste, vou colocar como uma das metas de 2017 votar a ler livros e estudar sem interrupções por causa da internet, e vou começar agora! Obrigada.

  6. Acredito que um grande problema nem é apenas a “força oculta” que nos faz querer ver novas notificações, mas sim, o fato de não estarmos tentando mudar isso.
    Sabe, as vezes a resposta para perguntas tão complexas é simples: Cortar o mal pela raiz.
    Eu me distraia muito quando o celular apitava uma notificação. O que fiz? Desativei todas as notificações.
    Acreditem, não morri e ninguém morreu porque eu não vi sua mensagem na hora ou não respondi o comentário instantaneamente.
    Precisamos QUERER mudar nossos hábitos ruins.
    Parabéns pelo texto, muio interessante.
    Abraço,
    William Meller