Categorias: Organização

Sinto que estou me afogando em minhas roupas

Comprei muitas roupas | Camile Carvalho | camilecarvalho.com

Eu estou sobrecarregada com tudo que comprei nos últimos anos. Pronto, esta é a verdade sobre a situação em que me encontro neste exato momento.

Eu me perdi de mim durante a pandemia. Na verdade, se eu parar pra pensar mesmo, eu já havia me perdido de mim há muito, muito tempo. Mas é verdade que houve uma mudança muito brusca em minha identidade pessoal quando fui pra Índia. Acho que ali foi o marco de quando tudo começou a desandar, em determinados aspectos da minha vida.

Eu, que gostava da estética simples, clean, do silêncio, da paz interior, dos ambientes claros, poucos estímulos visuais e de me ver envolta em um ambiente sereno, do nada aterrissei na Índia. Não preciso comentar nada, não é mesmo? Pois bem. Eu precisei sobreviver, me encaixar, me adequar ao caos. Muito barulho, muitas cores, muitos estímulos, muito tudo. Mas isso nunca foi um problema pra mim, eu simplesmente segui o rumo adaptada a um novo estilo pessoal e de vida. Isso nunca foi o problema.

O problema começou durante a pandemia. Eu não tinha nem o caos, nem as cores, nem o barulho. Eu só tinha o silêncio do meu apartamento. Foi como estar dirigindo a 100km por hora e, do nada, pisar no freio. É lógico que algo assim não daria certo, e então esse desaceleração abrupta me causou muitas dores. Minha vida parou, veio a depressão, veio o nada, o vazio, o não saber se haveria algo depois do caos. Hoje, escrevendo sobre isso, mal dá pra acreditar que estivemos nessa situação que parecia não ter mais fim.

Mas, voltando aos estímulos, a pausa obrigatória de um fluxo que estava acelerado me fez repensar toda minha vida. Chegou um momento em que eu precisava me esvaziar, me libertar de todos os estímulos que esfregavam em minha cara diariamente: está vendo tudo isso? É o mundo que você não tem mais.

Foi doloroso, assim como pra muitos que me leem aqui. Eu só precisava criar coragem e fazer algo que muitos fizeram também: um super destralhe.

Pois eu me vi, durante vários dias, sentada no chão do meu quarto separando roupas para doar. Rasgando papeis velhos. Enchendo sacolas e sacolas de doações. Eu sabia que, assim que o caos passasse, eu voltaria pra India e não precisaria de muitas coisas ocidentais que estava acumulando. Eu me esvaziei completamente e isso me trouxe muita paz. Posso arriscar dizer que me esvaziar fez parte do meu processo de cura.

E então as coisas foram voltando ao normal, as atividades recomeçando, um novo trabalho com o Coral da UERJ, o retorno à Igreja Católica… eu precisava refazer o meu guarda-roupa. Precisava entender, no meio do vazio, quem eu era, qual a minha identidade, pois nem indiana colorida eu era, e nem tampouco poderia usar as poucas peças que restaram no meu armário, de roupas para desfrutar do lockdown em casa. E então eu comecei a comprar.

Foram momentos complicados e de muita ansiedade. Tudo o que eu havia escrito por aqui anteriormente, quando eu falava sobre Minimalismo, foi por água abaixo. Eu não segui absolutamente nada que eu seguia antes, muito menos os meus conselhos. Sabe aquele papo de só comprar o que realmente precisa, depois de pesquisar muito pra não comprar nada errado? Pois bem, isso não aconteceu.

  • Eu queria uma calça social preta. Mas achei uma bege e comprei mesmo assim.
  • Eu queria uma camisa branca, mas achei uma lilás e comprei mesmo assim
  • Eu queria uma botinha preta, mas achei uma marrom e comprei mesmo assim (e ela ainda ficou apertada no meu pé).

Tudo, tudo errado. Mas eu continuava comprando, na expectativa de que a próxima compra iria dar certo.

E não dava.

Meu Deus do céu, o que eu estava fazendo comigo mesma? Além de gastar o dinheiro que eu não tinha, ainda ficava frustrada ao me olhar no espelho e não conseguir combinar direito as roupas que eu tinha acabado de comprar. Eu estava completamente desnorteada pois não entendia, ao certo, qual era a minha identidade.

E assim permaneci durante o meu ano de 2022. Comprando, gastando meu dinheiro, não conseguindo fazer combinações básicas com as minhas roupas e me sentindo completamente frustrada.

Então eu decidi, agora no início de 2023 que eu precisaria mudar isso urgentemente. Eu preciso entender qual minha identidade, do que eu realmente gosto, que imagem quero passar independentemente dos outros. Não quero olhar alguém no Instagram, gostar da roupa e comprar uma igual. Não! Eu preciso fazer esse trabalho de olhar pra mim mesma, em primeiro lugar. E sei que não é de um dia pro outro.

Agora, com o carnaval chegando, pretendo aproveitar esses dias de descanso pra fazer uma super arrumação como antigamente no meu armário. A ideia é ficar apenas com o que realmente combina comigo e condiz com a minha realidade (o que meus compromissos exigem, por exemplo). E, para isso, será necessário até lá, fazer esse caminho para dentro pra entender o que me faz bem, o que me deixa confortável e o que traduz meu momento atual.

Pretendo compartilhar esse novo desafio aqui no blog e mostrar a vocês um pouco das escolhas que farei.

Se você também desandou com as compras, se perdeu no meio do caminho e acha que seu guarda-roupas está um caos, me dê a sua mão e vamos juntas organizar isso aí. Eu daqui, você de sua casa. O importante é o primeiro passo: firmar esse compromisso consigo mesma.

Até os próximos posts, voltarei aqui em breve com meus textões reflexivos e novos insights.

Categorias: Meu Diário

Olá, novembro!

Iniciamos novembro com um novo desafio pela frente. Após um período conturbado de extrema polarização e fanatismo desenfreado (que aparentemente não acabará tão cedo), a vida continua.

É preciso que observemos a nós mesmos para que percebamos que tudo o que é material, passa. O agarramento às coisas e ideologias materialistas e terrenas só causa sofrimento, e por este motivo é urgente que olhemos para o céu, para o que há de mais elevado e para o que é eterno.

Aos que estão felizes e aos que estão desolados, resta-nos fazer uma única pergunta: como está a nossa vida espiritual? Façamos um exame de consciência, mantenhamo-nos em Estado de Graça e não nos percamos do nosso único guia: a Verdade / Deus.

Nada que é materialista nos leva à salvação. Caminhemos em meio ao caos, porém com nossos olhos mirando o Divino. Sejamos o sal da Terra e a luz do mundo.

Categorias: Comportamento

A sutil agonia da vigilância

Talvez as coisas estejam indo longe demais. Ou talvez, já há muito tempo perdemos o controle de tudo e só agora estamos percebendo. Eu não sei vocês mas nesses últimos dias algo me incomodou demais em relação à privacidade, e vou contar a vocês.

Domingo fui ao shopping comprar algumas coisas que estava precisando e uma delas foi um shampoo. Um simples shampoo na farmácia. Como já sei o que sempre uso e sou extremamente prática, simplesmente entrei na farmácia, fui direto à prateleira dos produtos de cabelo, peguei o que queria, fui ao caixa, paguei. Ponto. Se levou 5 minutos tudo isso, foi muito!

Pois bem. Desde então, ao chegar em casa e acessar meu email, percebi que havia recebido um email da farmácia pedindo que eu avaliasse o atendimento. Como sempre, deletei e segui a vida. Não gosto – mesmo – dessas avaliações, salvo quando peço algo pelo iFood e sei que o entregador precisa daquilo pra manter seu emprego. Fora isso, acho invasivo receber um email de avaliação de atendimento de uma compra que mal durou 5 minutos. Eu não tive uma experiência de compra. Eu simplesmente fiz o trivial.

Email deletado. Problema resolvido? Não. Hoje é quinta-feira e desde então recebi mais dois emails iguais. Pedindo que eu avaliasse uma compra de domingo, uma compra simples e comum. Minha gente, eu não comprei um carro. Foi um shampoo. Poderia ter sido pior, eu poderia ter comprado uma barra de cereal e comido ali, no mesmo dia. O produto já teria acabado em 2 minutos e os emails continuariam chegando?

Vivemos sendo vigiados constantemente, eu sei. Eu sei que só por ter conta em redes sociais, os “grandes” sabem de toda a minha vida, até que estou solteira, que curso Teologia, que voltei pra Igreja Católica, minha idade, quanto ganho, eu sei, eu sei de tudo isso. Mas é tudo muito bem disfarçado, quase não percebemos essa constante vigilância. Mas convenhamos, há algumas atitudes que nos incomodam, que tocam em um ponto sensível e nos desperta uma agonia sutil de estarmos sendo vigiados. E hoje eu senti isso.

Sei que há muitos métodos, regras, manuais de como melhorar a experiência de compra do cliente blá blá blá. Mas o que as empresas têm que perceber é que uma regra nem sempre vale pra tudo. Receber um carro zero com um laço de fitas é uma coisa. Receber 3 emails pedindo que eu avalie uma compra que fiz em 3 minutos de um shampoo, é outra.

Vocês já passaram por alguma situação semelhante, na qual se sentiram invadidos com emails ou até mesmo vendedores? Conte pra mim sua experiência.